Rio Grande do Sul

O racismo estrutural se fortalece com o passar do tempo

Para entender o atual cenário, é preciso analisar o contexto histórico do Rio Grande do Sul. De acordo com a socióloga, mestre em Ciências Sociais e doutora em Sociologia, Suelen Aires Gonçalves, as formas contemporâneas de racismo no Estado podem ser enxergadas como um reflexo das desigualdades criadas no território.


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A pesquisadora ressalta que a formação social do Rio Grande do Sul, que é composta por um forte processo de imigração de pessoas brancas com investimento público para se estabelecer, e a distribuição do território, da concentração de renda e desenvolvimento em algumas regiões em detrimento de outras podem ser considerados fatores que fortalecem o racismo estrutural.

 
– Tais construções são base das desigualdades raciais no Rio Grande do Sul e no Brasil e suas formas sofisticadas de atualização. Por exemplo, os casos de resgates de pessoas escravizadas em pleno 2023 demonstram a potência desse processo desumano em nossa sociedade – afirma Suelen.


Medidas

No combate ao racismo, Suelen cita medidas que podem contribuir com a formação das novas gerações, como a inserção da educação racial nas escolas e a promoção de ações de valorização da cultura negra, indígena e de outros povos. Para a socióloga, a questão das desigualdades raciais necessita de uma ação coletiva da sociedade brasileira em relação ao seu enfrentamento, dado que o Brasil foi o último das américas no processo de abolição da escravidão e ainda mantém fragmentos na estrutura.


– Vivemos as diversas formas de desumanização das pessoas pretas neste país, desde a violência racial feita pelo aparato estatal como a violência policial. Vivenciamos a volta do Brasil no mapa da fome, sendo que, a população empobrecida neste país tem cor e é negra. Vivenciamos a falta de acesso a direitos básicos como o direito à vida, à moradia digna, à saúde pública, dentre outras necessidades. Ou seja, vivenciamos um país do apartaid social e racial – conclui a socióloga.


“Em uma sociedade racista, é preciso ser antirracista”

Citada muitas vezes em discursos e eventos antirracistas, a frase escrita pela professora, filósofa e ativista do Movimento Negro, Angela Davis, descreve a postura que é necessário ter para modificar, de fato, a sociedade.


A gaúcha Luana Daltro considera essa premissa ao produzir conteúdos para redes sociais. Em seu perfil @ludaltro_ no Instagram, com mais de 6 mil seguidores, a relações públicas e consultora de comunicação e diversidade racial destaca a importância de ações concretas para coibir o racismo.


– A nossa sociedade naturalizou discursos como ações. Acostumaram-se a dizer que são contrários ao racismo, mas não terem práticas que estejam associadas ao discurso. Por isso, acabamos tendo uma ineficiência nesta pauta e quando Angela Davis reforça esse discurso é para que saibamos da zona de conforto da sociedade, e que tenhamos gestos concretos para atuar contra o racismo – explica.


No final de 2022, Luana criou o curso de Letramento Racial, que aborda contexto histórico e identidade racial brasileira, além de conceitos raciais e ações voltadas ao antirracismo.
De acordo com a consultora, o surgimento do termo teria ocorrido na década de 2000 nos Estados Unidos, sendo incorporado no Brasil, por autores brasileiros. Inclusive, a temática racial teria ganhado força e notoriedade em diversos países após a morte brutal de George Floyd, vítima de violência policial em maio de 2020. Luana destaca a importância do letramento racial nos dias atuais:


– As ações de reivindicações por equidade sempre existiram. A questão é que não eram escutadas. O letramento racial não fala apenas sobre a alfabetização sobre a temática racial, mas também pressupõe ferramentas para que sua atuação aconteça na sociedade.

Resistências

Para a relações públicas, a tecnologia tem favorecido a comprovação de casos e situações que já ocorriam há muito tempo. Cabe, agora, aos profissionais e órgãos responsáveis, instruir as vítimas para que a justiça seja feita:


– A solução está longe de acontecer, porque ainda temos diversas barreiras e resistências de pessoas que não querem admitir e deixar seus privilégios, mas, entendo que buscar ações que proporcionem o letramento racial na sociedade pode auxiliar nessa construção. Espero que tenhamos cenários de mais oportunidades e possibilidades para pessoas negras na sociedade.

O que é letramento racial?

  • Considerado uma ferramenta essencial dentro da luta antirracista, o letramento racial busca, na prática, conceituar os principais temas relacionados à raça, desmistificar as crenças sociais e vieses inconscientes
  • É destinado a todas as pessoas, independente da raça, sendo importante para que pessoas brancas compreendam preconceitos e reconheçam privilégios, e para que pessoas negras atuem no resgate da identidade, não sendo reprodutoras do racismo

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